Os sistemas organizados de transporte público por ônibus urbano, presentes em 2.901 municípios brasileiros, tiveram uma perda acumulada de R$ 25,7 bilhões, entre março de 2020 e fevereiro de 2022, devido à Covid-19. O prejuízo corresponde a 33,8% do faturamento mensal do setor, registrado antes da pandemia, como consta no estudo elaborado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), denominado “Transporte Público por Ônibus – 2 anos de Impactos da Pandemia de Covid-19”.
O levantamento revela que o impacto financeiro trouxe consequências graves para as empresas, clientes e para a economia do país. As empresas sofreram com diminuição da arrecadação e perda de postos de trabalho, os passageiros forma impactados com a diminuição da oferta e o poder público com perda de receitas provenientes da tributação pelo serviço. Como exemplos é possível citar 44 empresas e 5 consórcios que suspenderam suas atividades ou deixaram de operar os 379 registros de paralisações temporárias, por greves ou protestos, motivadas, na maiorida dos casos, por atrasos no pagamento de salários e benefícios, decorrentes das dificuldades de caixa das empresas, que afetaram 107 sistemas de transporte público de todo o país. O estrangulamento financeiro do setor gerou também uma redução de 92.581 postos de trabalho, queda de 22,7% no nível de emprego direto existente no setor em dezembro de 2019, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
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Uma das consequências de todo esse período é, sem dúvida a redução da oferta de transporte. A própria NTU viu o seu quadro em empresas associadas diminuir pouco mais de 10% saindo de 463 para 406 empresas o que leva o presidente da entidade, Francisco Christovam, fazer uma breve reflexão que impacta muitos usuários pelos quatro cantos do país. “Se aplicarmos esse percentual ao conjunto de empresas de ônibus existentes em todo o Brasil, calculado em torno de 1.800 operadoras, a maioria de pequeno e médio porte, podemos estimar que pelo menos 223 empresas podem ter sido obrigadas a encerrar suas atividades nos últimos dois anos”, afirma.
Não é segredo que o setor de transporte já vinha atravessando uma forte crise antes mesmo da pandemia da covid 19, com sucessivas perdas de passageiros, custo do serviço cada vez mais alto, falta de competitividade diante de outros modais e claro, a ausência de políticas governamentais capazes de fomentar o uso do transporte público, sem impactar diretamente o orçamento das famílias, principalmente àquelas mais humildes.
Entretanto, a pandemia agravou ainda mais o quadro, quando a quantidade de passageiros transportados, nos três primeiros chegou a uma redução de 80%. Hoje, apesar da volta gradativa da circulação das pessoas, as empresas ainda sentem a diferença em relação a demanda registrada no período pré covid 19, o que faz as operadoras ainda terem dificuldades econômicas. “É importante esclarecer que, mesmo assim, o desequilíbrio entre os níveis de oferta e demanda de passageiros persiste até hoje e o setor segue acumulando prejuízos. Em fevereiro deste ano, a demanda média nacional de passageiros apresentou índice 14,5% menor do que a oferta” – reforça Christovam.
A crise aguda do setor só não foi pior porque, durante a pandemia, houve mais de cem iniciativas de socorro emergencial, por parte dos poderes públicos locais, em 108 sistemas de transporte público por ônibus, incluindo subsídios tarifários aos passageiros, aumento de subsídios preexistentes e implementação de subsídios permanentes para complementar a receita tarifária, obtida a partir da tarifa pública cobrada dos usuários.
Essas ações reduziram o desequilíbrio econômico-financeiros dos contratos, mas tiveram alcance limitado, pois de acordo como estudo, várias iniciativas foram temporárias, e em apenas sete casos, os subsídios foram adotados de forma permanente. De qualquer modo, esse movimento evitou uma onda de falências das operadoras e garantiram a continuidade dos serviços nas 108 cidades beneficiadas, que reúnem 57,6% dos passageiros de transporte coletivo urbano no país.
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