Está enganado que pensa que a crise no transporte coletivo é algo observado pela paralisação da operação em função do novo coronavírus. No auge da pandemia o setor deixou de realizar 32 milhões de viagens diariamente. Com isso, a descapitalização e a diminuição do poder de investimento e, consequentemente, a perda de competitividade frente a outros modais que receberem parte da demanda que deixou de usar o transporte público.
A não realização de milhões de viagens diariamente é um dos cenários apontados pelo Anuário NTU 2019-2020, que entre outros dados mostra a perda diária de 1,2 milhão de viagens realizadas por passageiros pagantes, o que, no cálculo para todos o país indica uma queda de, aproximadamente, 4% da média de viagens dos meses de abril e outubro de 2019, comparados ao mesmo período de 2018.
A NTU vem fazendo esse levantamento ao longo dos últimos anos e alertando para o cenário de crise no transporte coletivo em âmbito nacional e, que este ano o cenário ficou ainda mais alarmante diante dos impactos gerados pela Covid-19. Dessa forma, o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, diz que são necessárias medidas emergenciais para que o setor sobreviva de moda que consiga oferecer transporte digno para a população. “O transporte público é um serviço essencial para o funcionamento e a qualidade de vida nas cidades, além de ser também um direito social definido pela Constituição Federal”.
Sucessivas perdas de demanda
O executivo salienta que a crise no transporte coletivo vem de antes da pandemia e que a instituição trabalha para a garantir a continuidade das operações pelo país e que um dos objetivos do Anuário é mostrar o panorama da mobilidade brasileira, que depende muito das viagens por ônibus. O documento tem como referência informações de nove grandes sistemas de ônibus urbanos do país, que juntos representam cerca de 35% da frota e da demanda total em Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
O Anuário NTU 2019-2020 também mostra que, nos últimos seis anos, de 2013 a 2019, o número de passageiros transportados caiu 26,1%. Isso agravou o quadro registrado no período de 1994 a 2012, em que foi observada a redução de 24,4%. Nesse contexto, a oferta do serviço também chama a atenção. O estudo mostra que houve um aumento de 0,9% da oferta de transporte público por ônibus em 2019 em relação ao ano anterior, apesar da redução das viagens de passageiros pagantes.
Otávio Cunha entende que “é urgente a proposição de novas alternativas para promover a sustentação dos contratos, principalmente a diversificação das fontes de financiamento”. E afirma que não existem condições para a manutenção de um modelo de financiamento sustentado por recursos oriundos exclusivamente da receita tarifária. “A pandemia confirmou isso”, reforça.
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