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Presidente da NTU faz um balanço do setor

Segmento perde passageiros ano a ano. Modelo tarifário vigente não sustenta a atividade. 

Durante o Seminário Nacional realizado no começo do mês em São Paulo, a NTU promoveu uma série de discussões de temas relacionados a mobilidade urbana, e, consequentemente um raio x do setor de transporte de passageiros por ônibus no Brasil. O segmento vem apresentando perda de demanda por anos consecutivos e procura se modernizar, para recuperar a competitividade no mercado, mas esbarra em velhos entraves como a falta de investimentos em infraestrutura, a necessidade de revisão do modelo tarifário, a priorização nas vias e a regulamentação de novos entrantes como a consolidação do transporte feito por meio de aplicativos.

Diante de uma série de desafios, o presidente da NTU, Otávio Vieira da Cunha, fez um breve resumo do momento que o setor atravessa, a realização e objetivos do evento, assim como as expectativas futuras. Paralelamente, ao seminário, a recém-inaugurada Lat.Bus – Feira Latino Americana do Transporte – apresentou novidades do setor, além de abrir as portas para expositores internacionais, o que segundo o executivo pode representar oportunidades para os fornecedores brasileiros também. “A abertura da feira para parceiros da América Latina se dá em função do momento de recessão econômica pela qual o país atravessa. Trata-se de uma oportunidade da realização de novos negócios, logo que a indústria, apesar de ter crescido em média 50%,  vem de números muito baixos e as fábricas já fazem transações com países como Argentina, México e Chile”.

Otávio discursa durante a abertura do seminário

De acordo com Otávio, a presença de operadores de outros países enriqueceu ainda mais o evento, pois foi possível ter uma visão melhor dos desafios do setor nas cidades latino americanas, como também apresentar o panorama brasileiro. “Do ponto de vista dos empresários, a troca de experiencias com os operadores da Colômbia e Bolívia foi positiva. Nesses países existe a participação forte dos governos no transporte público. Este é o modelo semelhante ao que se quer implantar no Brasil com a  Cide. “A proposta que queremos implantar aqui no Brasil passa por essas experiências como a dos nossos vizinhos. Por exemplo, na Cidade do México a frota de ônibus é adquirida pelo poder público” – frisou.

Investir é necessário

A revisão do modelo tarifário também é assunto recorrente entre os operadores e precisa ser debatida com o poder público logo que, a remuneração baseada somente no pagamento das passagens não vem cobrindo os custos da operação. “Hoje queremos modificar o modelo de negócio porque sabemos que o aumento de tarifa faz com o que o setor perca passageiros. É necessário modificar esse sistema, passando pela revisão da política tarifária. A Europa otimiza recursos e aplica no transporte público. Outros países adotaram tarifas específicas para custeio do transporte. No mundo, o modelo que se sustenta é uma parte sendo paga pelo passageiro e outra pelo restante da sociedade, mas para isso o serviço precisa ser competitivo”.

A melhoria do transporte público operado por ônibus no Brasil se faz necessária pois é o modal responsável pelo deslocamento de pelo menos 80% da população nos mais de três mil municípios onde a atividade está regulamentada e passa pela tomada de algumas ações. O investimento em infraestrutura é uma delas. Com a realização dos eventos esportivos, houve o “boom” da aplicação de recursos no setor, logo depois esse movimento parou. “Todo ano deve haver um programa de financiamento do transporte. Resolvida essa questão é preciso dar prioridade ao ônibus. Isso não significa investir somente no modelo viário, mas sim em trilhos onde existir a demanda. Enquanto esses investimentos não são feitos, que se priorize pelo menos as faixas seletivas e corredores que são soluções mais baratas”.

Sugestões para a mobilidade do País

Na nova era da mobilidade entram os serviços operados por meio de aplicativos. Para Cunha a tecnologia existe e o setor não é contra ela, porque, veio ao encontro da necessidade do usuário. “Devemos aproveitar a oportunidade e criar os aplicativos para o transporte público. Agora, no momento em que o transporte individual se transforma em compartilhado, ele deve ser licitado, regulamentado e inserido na rede de transportes.  Parte desses recursos devem ser retidos para investimentos em mobilidade” – defende.

Com as eleições se aproximando, a NTU formulou algumas propostas para manter o tema da mobilidade na agenda presidencial dada a importância da atividade. Afinal, é um serviço de competência do poder público concedido as operadoras.  “As propostas que estamos sugerindo é fruto do aprendizado dos operadores, mas a União é quem tem a capacidade para investir e, para isso precisamos da sinergia entre os poderes de modo que os municípios tenham capacidade de realizar investimentos e dar condições para a melhor operação a fim de que, o serviço volte a ser competitivo”.

Entre as sugestões, estima-se que investindo 3 bilhões de reais ao ano para construção de 10 mil quilômetros de faixas seletivas para a aumentar a velocidade comercial dos ônibus contribui para diminuição de congestionamentos, aumento de fluidez e redução de acidentes e emissão de poluentes. “Se essa medida promover a recuperação de 15% da demanda para o setor, o governo economiza mais de 10 bilhões com gastos em saúde pública” – finaliza Otávio.

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